quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Jornalismo, para ser popular, precisa ser sensacionalista e antiético? Que rumos a comunicação vem tomando? Popular ou populacho?



Presenciamos nos últimos anos o crescimento de um novo modo de fazer jornalístico, em especial, com o crescimento espantoso da Rede Record de televisão e a entrada em cena de um jornalismo mais “brincalhão, descontraído” e, dizem, “popular”. O Balanço Geral nacionalizou um jornalismo totalmente diferente do padrão que se tinha no país. Entretanto, é importante que a gente faça uma analise do que realmente significam esses programas.
O repórter, apresentador e professor Tony Black, atualmente no Sistema Meio Norte de Comunicação, disse em um Grupo de Discussão, na 4º Semana de Comunicação do CEUT, que “Jornalismo Popular” era o jornalismo despreocupado com a forma, um jornalismo que xingava ao vivo, que não precisava esconder rosto de ninguém e nem mesmo o sangue jorrando dos corpos. E disse mais ainda, falou que se os jornalistas fossem se preocupar com a ética, eles poderiam desistir da profissão, “por ética no jornalismo não existe, eu estou sendo sincero com vocês”, disse.
E são inúmeros os jornais que surgiram se auto-intitulando populares, assim também, como são inúmeros os jornalistas que se auto-proclamam “jornalistas populares”. Infelizmente, eles não sabem o tamanho do significado que esses termos têm para a historia da sociedade.
Primeiro, precisamos compreender o que esse tal de “jornal popular”, entendido aqui como um programa, um quadro de televisão, um veiculo impresso ou digital. O pesquisador e jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, diz que o “jornal popular” é aquele que pertence à grande imprensa, mas se dirige ao chamado “povão”. Sua primeira página atém-se somente ao inesperado, sensacional, inédito. Para ele, vale tudo para vender: sexo, esporte, crime. Para Márcia Franz Amaral, Doutora em Comunicação e Informação pela UFRGS, os jornais auto-intitulados populares baseiam-se na valorização do cotidiano, da fruição individual, do sentimento e da subjetividade. Os assuntos públicos são muitas vezes ignorados; o mundo é percebido de maneira personalizada e os fatos são singularizados ao extremo. O enfoque sobre grandes temas recai sobre o ângulo subjetivo e pessoal.
Sendo assim, o povo, que é excluído das discussões políticas do seu próprio país (chamado a construí-lo apenas nas eleições), prefere ver a retratação de um cotidiano próximo ou semelhante ao seu, do que ver as discussões mais profundas sobre temas que, de uma forma ou de outra, irão recair sob seus ombros, mesmo que não saibam. O povo, infelizmente, se sente mais próximo das matérias que retratam a fome, a miséria, a violência, a falta de educação e saúde, do que as que trazem discussões sobre políticas, teorias, ciência, tecnologia. Isso, claro, não por que o povo seja ignorante ou burro, mas, principalmente, por que é uma parte excluída da sociedade, que não têm oportunidade de emprego, saúde, educação, moradia, etc.
Precisamos entender ainda que há uma diferença significativa entre “jornal popular” e “jornalismo popular”. Essa diferença se dá, entre outras questões, pela ampla definição desses termos, todavia, mesmo percebendo as dificuldades de uma definição precisa, uma coisa é lógico e consenso, o jornalista que faz um jornal “dito para o povo”, mas ao mesmo tempo têm seu interesse maior revertido para o lucro que terá com aquele tipo de veiculação, não pode ser chamado de comunicador popular. A Comissão Evangélica Latino-americana de Educação Cristã (CELADEC, 1984), coloca que “no jornalismo popular, emissores e receptores são sujeitos. Trata-se de um jornalismo feito pelo povo e para o povo”.

Portanto, jornalismo popular e jornalista popular são diferentes de jornal popular. O jornalismo popular não pode ter fim nele mesmo, não deve existe com outro interesse que não seja o da comunidade onde esteja inserido. Por isso, ele só será realmente popular se estiver dentro de uma comunidade, servindo a ela e por ela sendo construído.
Os jornalistas que fazem jornais ditos populares, que se autodenominam jornalistas populares e ganham fortunas mensalmente, não sentem na pele o que é passar 1 hora dentro de um ônibus lotado todos os dias pagando tarifas absurdas e ganhando um salário de miséria no fim do mês; não sabem o que é trabalhador 10 ou 12 horas por dia pra ganhar menos de um salário mínimo; não sabem o que não ter um pedaço de pão para seus filhos tomarem café antes de ir para escola, e que muitas vezes, o desespero leva ao roubo (não por maldade, mas por necessidade), e eles, que se dizem defensores do povo, chamam esses trabalhadores, excluídos pela sociedade, de ladrões e vagabundos.
Por isso, considero esse tipo de jornalismo como Populacho que, antigamente, era o nome dado às pessoas que não pertenciam ao povo de Israel, que estavam no Egito por ocasião das pragas e resolveram ir junto com o povo de Israel. Isso é bem semelhante com o que acontece hoje com o jornalismo dito do “povão”, eles, os jornalistas muitas vezes não são daquela determinada camada social, mas que, para poder garantir seu sustento e seu salário no fim do mês, se colocam como povo e seguem o povo, mesmo não sendo.
Então uma coisa fica clara: não haverá comunicação verdadeiramente popular enquanto o povo, com suas angústias e alegrias, não tornarem-se produtores, autores e atores principais nesse processo. Uma noticia somente será verdadeira de fato quando for feita por aqueles que a vivenciaram.
O que estou falando nesse texto não é simplesmente uma balela de estudos científicos (estudos que estão distantes do povo não por que eles queiram, mas por que são obrigados). O que estou colocando aqui é a necessidade real de rediscutir a forma como se vem fazendo jornalismo no Piauí e no Brasil, de um modo geral. Dizer que jornalista pra viver precisa esquecer a ética, é a mais pura constatação que chegamos no limite da nossa moral profissional. Não estamos nessa profissão apenas para retratar fatos e acontecimentos, estamos aqui por não podemos nos calar diante da injustiça, da desigualdade, da irresponsabilidade, mesmo quando esta recai dentro de nosso próprio meio de trabalho.

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