sábado, 29 de maio de 2010

Aos que vêem com eu!

   Aos que vêem, e percebem a mídia com instrumento social, transformador e formador de opiniões.
   Aos que vêem, e percebem o profissional da mídia como principal ator nesse processo, atuando como um agente social influenciador de uma sociedade.
   Aos que vêem a comunicação como direito humano e aos que percebem que a informação, quando de interesse público, não pode de modo algum parar em determinações judiciais.
   Aos que vêem a notícia muito além do mercado e aos que percebem que ela não tem preço.
   Aos que anseiam por uma mídia sem espetacularizações, sem exacerbações e construções mirabolantes.
   Aos que buscam uma comunicação democrática, limpa do julgo das sombras tributadas e aos que querem a ativa participação e o fim da monopolização.
   Aos que anseiam por mudanças e não se permitem vender a um sistema corrupto e de imposições.
   Aos que acreditam no coletivo e percebem o quão maior e mais fácil é a construção conjunta.
   Aos que defendem interesses sociais e não seus próprios e individuais interesses.


Aos que vêem com eu, vejam só:
28 de março de 2010, o dia começa com chuva fraca que logo dá lugar ao forte e habitual sol da capital piauiense, uma sexta-feira que tinha tudo pra ser como todas as outras, não fosse o I Seminário de Comunicação Social da Justiça Federal no Piauí: O direito à informação e a garantia à inviolabilidade da imagem num mundo globalizado.

O seminário, que aconteceu no Auditório Salmon Lustosa, Fórum Coelho Rodrigues, Seção Jurídica do Piauí – Av. Miguel Rosa, n.7315 – redenção, trouxe importantes palestrantes, como a desembargadora federal do TRF da 2ª Região (RJ), Salete Maria Polita Maccalóz e o jornalista Marcio Chaer, diretor do Site Consultor Jurídico, além de grandes nomes do direito e do jornalismo piauiense, tais como o Prof°. Dr°. Fenelon Rocha, o Promotor Edílson farias, dentre outros. Na plenária: estudantes de comunicação social e direito, jornalistas, advogados, defensores públicos, lideres comunitários, professores, representantes de movimento sociais, etc.

Tudo isso daria ao seminário ingredientes importantíssimos para fazer dele um grande evento. É bem verdade que foi. Mas confesso que meio desastroso e decepcionante ao meu ver. E não só ao meu ver. Do meu lado esquerdo, por exemplo, estudantes de comunicação e do meu lado direto, profissionais da comunicação e a voz de ambos era unívoca... Ou melhor, o sentimento de: “o que esta acontecendo aqui?” era unívoco. É... Talvez até entendêssemos o que estava sendo exposto, mas há, e a Deus agradeço todos os dias por isso, uma linha bem grande entre entender e aceitar aquilo como verdade.
Levanto 6 horas da manha, saio de casa ainda com chuva, agravado por um pequeno vestígio de gripe mal curada, querendo um acumulo maior de conhecimento, perceber coisas novas e ver a comunicação pelos olhos da justiça, mas deparo-me com discursos que nunca imaginei ouvir num seminário desse tipo.

A proposta de debater liberdade de expressão, direito ao resguardo da imagem e direito à informação, é de fato importantíssima. Para além da proposta, o desenrolar dos debates é que foram decepcionantes, sobretudo, no painel 1: Liberdade de expressão X limitações da atividade jornalística: dilemas contemporâneos, que trouxe, na fala de Marcio Chaer, um caráter puramente mercadológico e tecnicista.

O que eu assimilaria do seminário? Que a informação é um produto, que o jornalista é apenas um fabricador de noticias que serão vendidas, que um curso superior é totalmente desnecessário na área de comunicação, que as justiças são lentas por têm que ser lentas, que a censura não existe, que o juiz ao impedir que uma noticia, de interesse público, seja publicada, ele esta somente cumprindo seu papel e não censurando o jornal. Que o comunicador social nada tem de social, que ele é apenas um boneco manipulado e constantemente moldado por um sistema maior e que é esse sistema que indica seu modo de atuação. Tiraria que o publico tem o "poder nas mãos": o controle remoto, que ele muda de canal quando quer e assiste o que quer, mas não o que lhe é ofertado.  E mais, que ele prefere futilidades à cultura e que a cultura, e isso foi de veras engraçado, do povo piauiense é o “É o Tchan”, "Rebolition", "Creu" (cito-os apenas como exemplo).

De tudo isso concluiria ainda dizendo: que de nada adianta o que estou aprendendo na academia, pois não quero um papel (lê-se diploma) que não me serve de nada, nem fazer dele tal mesquinha bagatela, parafraseando W.Shakespeare

Que bom que vejo as coisas com outros olhos, e que percebo que muitos também vêem.

Mas de todo não foi tão ruim, se pararmos pra pensar que aprendemos mais com os maus exemplos que com os bons. Esse é um exemplo que não quero seguir, não quero ser esse tipo de jornalista, digo, esse tipo de fabricador de notícias.

O bom de tudo isso é que no final da tarde tudo acaba, e posso esquecer de tudo que passou. Ou não, e quer saber!? Acho que não quero e nem devo esquecer. O bom, na verdade, é perceber como a justiça ver a comunicação, e como alguns jornalistas vêem a comunicação. E a cada dia convencer-se mais que a luta não pode parar. Que não podemos desanimar. Que os que vêem como eu, devem agora mais do que nunca, erguer a voz diante ao sistema, encará-lo frente a frente, e mostrar sua força e indignação. Esse seminário foi o mais “belo” exemplo de que precisamos estar cada vez mais juntos.

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